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Arquitetos: RCA - Regino Cruz Arquitectos
- Área: 1889 m²
- Ano: 2003
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Fotografias:Fernando Guerra | FG+SG
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Fabricantes: CIFIAL, Dorma, Geberit, Mediclinics, Technal, VMZINC
Descrição enviada pela equipe de projeto. Desde a primeira hora, o novo edifício foi idealizado para o gabinete REGINO CRUZ ARQUITECTOS. O terreno é em declive. O acesso, na Avenida de Portugal, está na cota mais baixa, subindo-se cerca de 11 metros até à extrema oposta. O projecto é muito simples: um embasamento, opaco e monolítico, onde a pedra é soberana; sobre este, um volume cúbico, em vidro, esculpido na rampa do terreno ajardinado, encimado por uma cobertura em curva ligeira, com os beirais acentuados. Nas fachadas mais expostas ao sol existe uma segunda parede, de palas metálicas, que forra o vidro para, em conjunto com os beirais, provocar a sombra conveniente. O elevador afirma-se independente da construção principal. Pretendi um pequeno edifício de escritórios, não do tipo “com-um-piso-repetido-em todos-os-andares”, mas onde cada um tivesse o seu ambiente próprio. Ao primeiro piso acede-se por uma escadaria ao longo do jardim, que se alarga por um relvado aconchegante em varanda sobre a rua.
O segundo andar, onde já se chega pelo elevador, está encastrado no terreno e tem o jardim que o circunda no cimo do embasamento. No terceiro piso olham-se as copas, reforçando-as como barreira natural à insolação directa. É interessante notar como a luz solar filtrada pelas árvores possibilita uma óptima difusão luminosa para quem trabalha com computadores; é um anti-reflexo natural. Os dois últimos pisos estão ligados em duplex, entrando-se por um espaço aberto em toda a altura, com um pé-direito de mais de 7 metros… A entrada, encaixada no terreno e forrada a granito, faz-se por uma passagem propositadamente estreita e alta.
Ao subir, há lugar à surpresa: a sensação de se iniciar o percurso dentro do ascensor, num recinto fechado, enterrado e, de súbito, o sair-se para a luz, entre as copas dos pinheiros e o panorama do mar. Também optei por conceber o elevador afastado do edifício, justificando um paralelepípedo forrado a zinco por entre os pinheiros. Em cada andar um passadiço exterior conduz-nos, como uma ponte, às entradas dos escritórios. É curioso o quanto este artifício permite a sensação tão agradável de, ao deixar o elevador, em vez de permanecermos no interior da construção, como normalmente acontece, descobrimo-nos novamente no exterior, ao tempo, aproveitando a paisagem e a brisa fresca que vem do mar. Visto de longe, à chegada, ressalta o embasamento. De volumes simples e paralelepipédicos. É de pedra. Granito cinzento. É a massa compacta monocromática onde assenta todo o resto. Mas, neste mar de cinzento, onde as superfícies ensolaradas convivem geometricamente com as negras faixas de sombra, era necessário um pingo de cor… E foi assim que, no lugar exacto para o equilíbrio visual deste conjunto, foi plantada uma colorida ameixoeira de jardim.
Um prunus cerasifera “pissardii” com as suas tenras folhas de vermelho intenso, recém-nascidas, que, com o passar dos meses, vão escurecendo. É a presença amiga, serena que, debruçada sobre a rua, cumprimenta quem passa. E com o rebentar da primavera? Como é exuberante esta ameixoeira nas duas ou três semanas em que se cobre de flores! Aos milhares... De rosa ténue e efémero, que logo depois, bem depressa, coalham o chão com o seu manto de pétalas, despedindo-se da sua aparição anual, intensa e passageira. Nos espaços interiores, os pilares em betão aparente com acabamento espatulado originam laivos cinza e esbranquiçados. Juntamente com todas as superfícies em ferro corrente envelhecido… e com o dourado da madeira de cerejeira, são elementos estéticos que complementam e compõem a sobriedade da pele em vidro, alumínio, zinco e granito. No último piso é dominante o tecto em curva branda, algo sensual aos meus olhos, forrado em painéis de cerejeira…